Agroturismo focado em negócios, com
Dinamarqueses.
Como havia escrito na página da minha agência de turismo, a
Parceiros do Turismo, no Facebook
https://www.facebook.com/parceirosdoturismo/
trabalhar como guia de turismo, além de ser gratificante gera desafios e
oportunidades bem diferentes como, por exemplo, acompanhar um roteiro religioso
na Europa ou realizar uma visita em uma favela no Rio de Janeiro.
Neste início de ano pude ter mais uma dessas memoráveis
experiências. Fui convidado por um colega, também guia de turismo, para
acompanhar um grupo de quinze dinamarqueses em um roteiro com foco em
agronegócios, a partir de São Paulo até Foz do Iguaçu.
Já havia recebido grupos que vieram ao Brasil com objetivos
similares, mas me restringia a atende-los em São Paulo onde iniciavam a sua
viagem.
Assim, diante da oportunidade de acompanhar o grupo fiz
alguns ajustes na minha agenda e topei o desafio, entendendo que me foi
confiada uma importante missão.
Roteiro:
Dia 1 – São Paulo
Dia 2 – São Paulo e Santos
Dia 3 – Santos, Avaré e Ourinhos.
Dia 4 – Ourinhos, Cornélio Procópio e Londrina.
Dia 5 – Londrina, Cambé, Santa Mariana e Ponta Grossa.
Dia 6 – Ponta Grossa, Carambeí e Cascavel.
Dia 7 – Cascavel, Santa Tereza do Oeste e Foz do Iguaçu.
Dia 8 – Foz do Iguaçu.
Ao escrever este relato busquei entender qual seria a melhor
definição para este tipo de turismo. E entendo que “turismo rural” ou “agroturismo”
não poderiam ser aplicados pois esses termos são utilizados para denominar um
turismo onde os viajantes que vivem em cidades buscam conhecer e vivenciar o
modo de vida das famílias de agricultores.
Certamente este não era o caso. Os dinamarqueses eram
fazendeiros interessados em fazer visitas técnicas em propriedades rurais com
produção agrícola e pecuária para entenderem quais eram as práticas utilizadas
no nosso país e buscando novos conhecimentos para otimização dos seus negócios
na Dinamarca.
O Desafio
Entendi que aquele seria um desafio por não conhecer a
grande maioria dos locais onde passaríamos, por não ter tanta experiência em
viajar com grupos, mas principalmente por saber que em algum momento teria que
traduzir ao Inglês informações e termos específicos da área agronômica que não
eram do meu domínio. E realmente durante o percurso me deparei com essa
dificuldade. Mas com jogo de cintura e com a compreensão dos clientes essa dificuldade
foi superada.
Passei a fazer anotações para memorizar alguns termos muito
utilizados no agronegócio como:
Livestock – pecuária
Yield – rendimento
Silage – silagem (alimentos)
Milking – ordenha
Crop – cultivo
Poultry – ave doméstica
No tillage – plantio direto
O Nosso Agronegócio
Foi interessante conhecer alguns números e características da
nossa produção. O Brasil é o maior produtor mundial de café, soja, açúcar e
suco de laranja. Está entre os maiores na produção de milho, algodão e carnes.
A produção agropecuária é superior a 20% do PIB brasileiro, tem impacto
positivo na balança comercial e grande importância para a suprir a demanda
mundial de alimentos. Ou seja, é imprescindível para alavancar a economia do
país, que não anda bem das pernas.
A grande novidade para mim foi conhecer o “sistema de
plantio direto”. Essa técnica foi desenvolvida a partir de uma nova prática, o
de “semeadura direta”, oriunda dos Estados Unidos e Inglaterra, onde
substitui-se as arações, escarificações e gradagens pela introdução de sementes
ou partes de plantas específicas. A técnica foi aprimorada com a melhor
preparação da área de cultivo “de maneira que seja possível manutenção
permanente da cobertura do solo e diversificação de espécies, via rotação e/ou
consorciação de culturas.”
Resumindo, essa técnica resultou na “minimização ou
supressão do intervalo de tempo entre colheita e semeadura, prática relevante
para elevar o número de safras por ano agrícola e construir e/ou manter solo fértil.”
Essa atual abordagem, foi responsável pela viabilização das chamadas
"safrinhas" e, em decorrência, pelo relevante incremento de produção
de grãos do país, sem o equivalente aumento de área cultivada.
Fonte: AGEITEC (Agência Embrapa de Informação Tecnológica).
Interessante também ver, em uma das visitas, como os estudos
para o “melhoramento genético” vegetal e animal estão crescendo no Brasil
através da seleção artificial, conduzidas por seres humanos, visando
principalmente maior produtividade.
E introdução de alimentos transgênicos (com modificações nos
DNAs) como a soja que entrou no Brasil vinda da Argentina, pelo Rio Grande do
Sul, antes da sua “liberação” pelo governo de Lula, também é um assunto que
tive conhecimento e que merece atenção.
Tudo indica que estas práticas podem ter efeitos colaterais
negativos a longo prazo.
Por coincidência eu estava terminando um livro sobre a vida
da Marina da Silva, ex Ministra do Ambiente, que já defendia a necessidade de
um amplo debate em torno dessas práticas. Europa e Japão ainda impõem
restrições a produção de alimentos transgênicos.
Outra observação é que ao conversar com alguns agricultores,
a maior parte se declara favorável ao governo atual, de Jair Bolsonaro que
parece adotar políticas que parecem favorecer o crescimento do agronegócio.
Na minha opinião o crescimento deve vir com precaução. O
aumento da produtividade de maneira equilibrada e inteligente propiciaria a contenção
da recente aceleração do desmatamento das florestas, que ao serem conservadas,
podem ser ainda mais rentáveis do que o agronegócio.
Os Dinamarqueses.
Atuando como guia de turismo avalio que foi muito
gratificante estar com esse grupo de fazendeiros.
Eles não reclamaram de nenhum
serviço ruim e após termos diversos horários a serem cumpridos foi
surpreendente não termos nenhum atraso nos horários estabelecidos.
Alguns não falavam inglês, e também por isso, após cada
visita Torben, dentro do ônibus, o líder do grupo, lia as anotações que tinha feito
resumindo as informações coletadas e as suas análises. Logo, passava o
microfone para que cada um fizesse seus comentários. Escutei muito eles conversando em dinamarquês.
Eles faziam comparações entre os dois países analisando o
valor da terra, as características climáticas, os ambientes de negócio e as
especificidades da produção, por exemplo.
Entre eles estavam produtores de suínos, de gados de corte e
leiteiros e produtores agrícolas como a beterraba (de onde é extraído o açúcar).
No final de cada visita davam aos anfitriões um porta velas,
tradicional da região onde moravam.
E no final de toda a viagem fizeram questão de realizar uma
mini cerimônia de agradecimento a mim com elogios ao meu desempenho ao
antecipar com horas as questões para viabilizar em 100% os detalhes
operacionais e ao buscar soluções rápidas e inteligentes para algo que
precisaria ser solucionado ou decidido. Deram uma boa “caixinha”.
Finalizando
A agenda foi bem repleta de atividades. Dormimos em sete
hotéis. E tivemos oito visitas técnicas / reuniões.
Em Foz do Iguaçu já tivemos uma programação voltada ao
lazer. Foi marcante o sobrevoo de helicóptero na Cataratas e a visita, no último dia, a
hidroelétrica de Itaipu.
Entendo que este tipo de turismo focado em agronegócios
ainda crescerá muito no Brasil em virtude no nosso posicionamento como um dos
líderes mundiais. Por isso, fiquei grato pela oportunidade de aprender um pouco
sobre este vasto campo do conhecimento e desejo agregar cada vez mais
conhecimento para poder prover um serviço cada vez melhor.
E agradeço ao Zeca Nunes pelo convite e pela confiança!